Entrevista a Esperança Abreu
Deputada da Assembleia Municipal de Aguiar da Beira
(+) Considera que as mulheres continuam sub-representadas na política, nomeadamente nas autarquias locais, em Portugal, apesar da Lei da Paridade?
E.A. Sim, as mulheres continuam sub-representadas na política, mesmo com a Lei da Paridade. Embora a lei tenha ajudado a aumentar a presença feminina em cargos políticos, especialmente nas listas partidárias, a realidade mostra que muitas vezes as mulheres são colocadas em posições menos destacadas ou com menor visibilidade. Nas autarquias locais, a situação é ainda mais evidente, pois há uma resistência cultural e estrutural que dificulta a ascensão das mulheres a cargos de liderança, como presidentes de câmara ou assembleias municipais. A Lei da Paridade é um passo importante, mas não resolve totalmente o problema da sub-representação.
(+) Considera que no Concelho de Aguiar da Beira se não fosse a Lei da Paridade dificilmente haveria mulheres nas três primeiras posições (ou em lugares de destaque) nos órgãos das autarquias locais?
E.A. Sim, acredito que, sem a lei da paridade, seria muito mais difícil ver mulheres em posições de destaque nos órgãos autárquicos de Aguiar da Beira. A lei forçou uma mudança na composição das listas e, consequentemente, trouxe mais mulheres para cargos de visibilidade. No entanto, é importante notar que a presença feminina ainda enfrenta resistências e estereótipos enraizados, o que significa que, sem a lei, a tendência seria manter o status quo, com predominância masculina nas posições de liderança.
(+) Quais os maiores desafios/barreiras que as mulheres enfrentam na política? E quais os maiores desafios/barreiras que tem encontrado enquanto mulher autarca?
E.A. As mulheres na política enfrentam diversos desafios, entre os quais:
Estereótipos de género: a ideia de que a política é um espaço masculino ainda persiste, o que leva a uma desvalorização das competências das mulheres.
Conciliação entre vida pessoal e profissional: muitas mulheres têm dificuldade em conciliar as responsabilidades familiares com a exigência dos cargos políticos.
Falta de apoio e rede de suporte: as mulheres muitas vezes não têm acesso às mesmas redes de influência e apoio que os homens, o que dificulta a sua ascensão.
Assédio e discriminação: situações de assédio ou comentários desrespeitosos ainda são comuns, criando um ambiente hostil.
No meu caso, enquanto autarca, enfrentei desafios como a necessidade de provar a minha competência. Nunca senti grandes problemas em equilibrar as responsabilidades políticas com a vida familiar, uma vez que sempre contei com muito apoio. Por outro lado, existe uma expectativa maior sobre o desempenho das mulheres, como se precisássemos de ser “perfeitas” para sermos aceites.
(+) Na tua perspetiva, que medidas poderiam aumentar a participação feminina na política?
E.A. Para aumentar a participação feminina na política, considero fundamentais as seguintes medidas:
Educação e sensibilização: promover desde cedo a igualdade de género nas escolas e na sociedade, desconstruindo estereótipos e incentivando as mulheres a participarem na vida pública.
Formação e capacitação: oferecer programas de formação específicos para mulheres interessadas em política, preparando-as para os desafios dos cargos públicos.
Apoio à conciliação: criar mecanismos que facilitem a conciliação entre a vida familiar e a carreira política, como horários flexíveis e apoio à parentalidade.
Incentivos partidários: Os partidos políticos devem adotar políticas internas que promovam a igualdade, como a reserva de lugares de liderança para mulheres e a criação de quotas para cargos executivos.
Visibilidade de modelos femininos: dar mais visibilidade a mulheres que já ocupam cargos políticos, servindo de inspiração para outras.
Combate ao assédio e à discriminação: implementar medidas rigorosas para prevenir e punir situações de assédio e discriminação no ambiente político.