Elisabete Lopes
Presidente da Junta da União de Freguesias de Souto e Valverde e Deputada da Assembleia Municipal de Aguiar da Beira
(+) Considera que as mulheres continuam sub-representadas na política, nomeadamente nas autarquias locais, em Portugal, apesar da Lei da Paridade?
E.L. Sim, apesar da Lei da Paridade, as mulheres continuam sub-representadas na política local em Portugal. A Lei da Paridade implementada constitui um grande passo para a igualdade de género na política, aumentando o número de mulheres na política, mas continuam a ser uma minoria, o poder autárquico continua a ser dominado pelos homens. Isso deve-se a redes políticas dominadas por homens, dificuldades na conciliação entre a política e a vida familiar e à persistência de estereótipos de género. Além disso, muitas mulheres são colocadas em posições menos elegíveis nas listas partidárias.
A paridade nas listas é um passo importante, mas não basta. Para uma verdadeira mudança, é essencial que os partidos apoiem mais candidaturas femininas e criem condições que incentivem a participação ativa das mulheres na liderança política.
(+) Considera que no Concelho de Aguiar da Beira se não fosse a Lei da Paridade dificilmente haveria mulheres nas três primeiras posições (ou em lugares de destaque) nos órgãos das autarquias locais?
E.L. Muito provavelmente, sim. No Concelho de Aguiar da Beira, como em muitos outros territórios do interior de Portugal, a participação política feminina tem sido historicamente reduzida. Sem a Lei da Paridade, que obriga os partidos a incluírem pelo menos 40% de cada género nas listas eleitorais, seria difícil ver mulheres nas três primeiras posições ou em cargos de destaque nos órgãos autárquicos.
A política local continua a ser um espaço onde as redes de influência masculinas predominam, e, sem uma exigência legal, é provável que a escolha de candidatos continuasse a favorecer os homens. Além disso, em concelhos mais pequenos, onde há menos renovação política e menor diversidade de candidatos, a presença feminina poderia ser ainda mais reduzida.
A Lei da Paridade não garante, por si só, que as mulheres cheguem a posições de liderança, mas sem ela, o cenário seria ainda mais desequilibrado. O grande desafio agora é que essa presença feminina não seja apenas simbólica, mas que haja um verdadeiro incentivo para que mais mulheres assumam cargos de decisão e tenham impacto real na governação local.
(+) Quais os maiores desafios/barreiras que as mulheres enfrentam na política? E quais os maiores desafios/barreiras que tem encontrado enquanto mulher autarca?
E.L. As mulheres na política enfrentam vários desafios, desde redes de influência dominadas por homens até à dificuldade de conciliar a vida familiar com a exigência de uma carreira política. Apesar da Lei da Paridade, muitas ainda são colocadas em posições menos elegíveis e não recebem o mesmo apoio partidário para chegar a cargos de liderança. Além disso, os estereótipos de género persistem, fazendo com que a sua competência seja mais questionada e sujeita a escrutínio. Outro obstáculo é a exposição a ataques pessoais e discurso de ódio, especialmente nas redes sociais.
Enquanto mulher autarca, esses desafios tornam-se ainda mais evidentes. A conquista de espaço num meio tradicionalmente masculino exige um esforço extra para ser reconhecida e levada a sério. Por vezes, há resistência em aceitar mulheres em cargos de decisão e a necessidade de provar constantemente a competência. No entanto, cada conquista representa um passo para quebrar barreiras e mostrar que a liderança feminina traz valor à política local.
(+) Na sua perspetiva, que medidas poderiam aumentar a participação feminina na política?
E.L. Para aumentar a participação feminina na política, é essencial ir além da Lei da Paridade e criar condições reais para que as mulheres tenham um papel mais ativo e de liderança. Os partidos devem garantir que as mulheres sejam colocadas em posições elegíveis e recebam o apoio necessário para progredir. A conciliação entre a vida política e familiar continua a ser um grande obstáculo, pelo que medidas como horários mais flexíveis e apoio à parentalidade seriam fundamentais. Além disso, é urgente combater o discurso de ódio e a hostilidade que muitas mulheres enfrentam, especialmente nas redes sociais, criando mecanismos que garantam um ambiente mais seguro e equitativo. A valorização do papel das mulheres na política local também pode ser um incentivo, dando maior visibilidade ao seu trabalho e mostrando que a liderança feminina tem impacto real. Por outro lado, a educação e a sensibilização, desde cedo são essenciais para desconstruir estereótipos e incentivar as novas gerações a envolverem-se na vida política. Mais do que apenas criar regras, é necessário mudar mentalidades e estruturas para que a presença feminina na política deixe de ser vista como uma exceção e passe a ser algo natural.