Entrevista a Catarina Pinto
Deputada e 1ª Secretária da Assembleia Municipal de Aguiar da Beira
(+) Considera que as mulheres continuam sub-representadas na política, nomeadamente nas autarquias locais, em Portugal, apesar da Lei da Paridade?
C.P. Com toda a certeza. Prova disso é o nosso distrito, sem nenhuma Câmara Municipal presidida por uma mulher. Alargando a observação ao país, são apenas 19 as mulheres Presidentes de Câmara.
(+) Considera que no Concelho de Aguiar da Beira se não fosse a Lei da Paridade dificilmente haveria mulheres nas três primeiras posições (ou em lugares de destaque) nos órgãos das autarquias locais?
C.P. Talvez. Ainda é difícil num concelho como o nosso, as mulheres serem reconhecidas e acreditadas no poder. O terceiro e o sexto lugar, é por alguns, visto como o que garante a lei da paridade e representatividade, por isso como uma obrigação legal e até “estética”. Não aconteceu comigo, enquanto autarca, mas acredito que uma das barreiras para muitas mulheres em cargos de poder – autárquico e não só- seja a de sentir a sua opinião subvalorizada, as suas decisões e convicções diminuídas e desacreditadas. Desautorizadas muitas vezes. Geralmente só pelo facto de serem mulheres. Se existe um homem com o mesmo ou maior poder de decisão, é a deste que vingará.
(+) Quais os maiores desafios/barreiras que as mulheres enfrentam na política? E quais os maiores desafios/barreiras que tem encontrado enquanto mulher autarca?
C.P. Sou militante e integro há quase 20 anos os órgãos distritais do Partido Socialista e, nesta estrutura, não senti que alguma vez me tivessem sido colocadas barreiras, bem pelo contrário. Senti sempre que, de todas as formas, sempre fui ouvida e valorizada. Enquanto autarca, fui eleita para um órgão deliberativo. A mesa da assembleia da qual faço parte, tomou as decisões necessárias em uníssono, não tendo por isso, sentido os desafios que outras mulheres em cargos políticos, com certeza sentirão.
(+) Na sua perspetiva, que medidas poderiam aumentar a participação feminina na política?
C.P. Defendo uma sociedade igualitária, sem preconceitos de género e penso que continua a ser olhada numa perspetiva preponderantemente masculina. Para aumentar a participação das mulheres no trabalho político, quanto a mim, a solução está na educação e a medida mais importante seria a de promoção da educação para a cidadania, que poderia ajudar na mudança de mentalidades e na redução dos estereótipos de género, que têm contribuído para desigualdades e injustiças sociais. É também importante que, desde cedo, os nossos jovens aceitem e incentivem a partilha de responsabilidades na prestação de cuidados, libertando assim as mulheres para terem o mesmo tempo e disponibilidade para o trabalho político. É também na educação que está a solução para o combate aos populismos, que continuam a ameaçar os direitos das mulheres, inclusive o de terem uma função relevante na política. Até ao presente, a política é representada maioritariamente por homens e pretende tratar dos problemas de todos.