O desafio das mulheres na política

Escrito em 08/03/2025
adminjornal

Entrevista a Flávia Navoeiro

Deputada da Assembleia Municipal de Aguiar da Beira

(+) Considera que as mulheres continuam sub-representadas na política, nomeadamente nas autarquias locais, em Portugal, apesar da lei da paridade?

F.N. Sim, as mulheres ainda são sub-representadas na política. Apesar dos progressos trazidos pela lei da paridade, a sua aplicação eficaz exige mais do que o mero cumprimento formal. Muitas vezes, a presença feminina na política ocorre apenas para atender às exigências legais, sem o devido apoio para que exerçam um papel realmente ativo. As mulheres enfrentam barreiras estruturais e culturais que dificultam a sua ascensão política, especialmente a nível autárquico. No entanto, na minha opinião observa-se uma tendência crescente de valorização da mulher, o que pode contribuir para uma mudança de cenário.

(+) Considera que no Concelho de Aguiar da Beira se não fosse a Lei da Paridade dificilmente haveria mulheres nas três primeiras posições (ou em lugares de destaque) nos órgãos das autarquias locais?

F.N Antes da alteração da Lei da Paridade era raro ver mulheres em posições de destaque nas listas para os órgãos autárquicos. Apesar da existência da lei, a sua aplicação não se refletia de forma significativa, onde a presença masculina continuava a ser predominante. No entanto, assiste-se a uma mudança de cenário, com uma valorização crescente do papel da mulher na política local. Um exemplo claro dessa mudança foi a lista da Assembleia Municipal apresentada há quatro anos pelo grupo Independente liderado pelo Exmo. Engenheiro Tavares, que contrariou a tendência habitual ao colocar mais mulheres do que homens nos primeiros lugares da lista. Entre os cinco primeiros candidatos, três eram mulheres e apenas dois homens. Curiosamente, se olharmos para a percentagem imposta pela lei, esta acaba por ser inversa ao mínimo exigido, o que demonstra que a escolha das candidatas não se limitou a cumprir uma obrigação legal. Isso revela que há uma crescente abertura para a participação ativa e influente das mulheres na vida política do concelho. Ainda assim, há um longo caminho a percorrer para alcançar uma verdadeira igualdade na participação política. Em cargos de maior destaque, como a presidência do Município ou da Assembleia Municipal nunca nenhuma mulher chegou a ocupar esse cargo e, pelo menos que me lembre, poucas ou nenhumas chegaran sequer a candidatar-se.

(+) Quais os maiores desafios/barreiras que as mulheres enfrentam na política? E quais os maiores desafios/barreiras que tem encontrado enquanto mulher autarca?

F.N. As mulheres continuam a enfrentar desafios na política, como o preconceito e uma exigência acrescida sobre o seu desempenho. Conciliar a vida pessoal, profissional e política permanece uma dificuldade, embora se note uma melhoria na partilha de responsabilidades entre casais. No meu caso, senti-me valorizada, mas percebi que estas barreiras ainda persistem. Além disso, não consegui afirmar-me tanto quanto gostaria na política, pois conciliar essa participação com a universidade revelou-se um grande desafio.

(+) Na sua perspetiva, que medidas poderiam aumentar a participação feminina na política?

F.N. Para promover uma maior participação feminina na política, é fundamental começar pela educação, incluindo nas escolas conteúdos sobre igualdade de género e incentivando desde cedo o envolvimento cívico e político. Além disso, a criação de campanhas de sensibilização sobre a importância do papel das mulheres na política. É crucial garantir que as mulheres tenham oportunidades reais e não sejam incluídas apenas por obrigação legal. Outro passo importante é incentivar e apoiar candidaturas femininas para cargos de liderança. Além disso, criar redes de mulheres na política pode facilitar a troca de experiências, estratégias e apoio.