Entrevista a Agostinha Morgado Vereadora (em regime de não permanência) da Câmara Municipal de Aguiar da Beira
(+) Considera que as mulheres continuam sub-representadas na política, nomeadamente nas autarquias locais, em Portugal, apesar da Lei da Paridade?
A.M. Sim, principalmente nas autarquias locais, onde são colocadas em posições menos elegíveis, e embora haja progresso na representação feminina, os homens ainda dominam. Há um longo caminho a percorrer para alcançar a igualdade na política em Portugal.
(+) Considera que no concelho de Aguiar da Beira se não fosse a Lei da Paridade dificilmente haveria mulheres nas três primeiras posições (ou em lugares de destaque) nos órgãos das autarquias locais?
A.M. Certamente. Sem a imposição da Lei da Paridade, é muito provável que não houvesse mulheres nas primeiras posições ou mesmo em qualquer lista candidata. Por exemplo, em 2005, eu era a única mulher (em terceiro lugar), na lista do PSD para a Junta de Freguesia de Aguiar da Beira, enquanto na lista do PS não havia mulheres. Em 2009, devido à Lei da Paridade, havia 5 mulheres e 10 homens na lista do PSD para a mesma junta de freguesia, verificando-se ainda o domínio masculino.
(+) Quais os maiores desafios/barreiras que as mulheres enfrentam na política? E quais os maiores desafios/barreiras que tem encontrado enquanto mulher autarca?
A.M. Os maiores desafios que as mulheres enfrentam na política são, sem dúvida, a desigualdade de género, assédio e violência psicológica. Iniciei a minha carreira política aos 27 anos, e, apesar de estar rodeada de homens, sempre me senti respeitada e nunca me senti inferior ou com menos capacidades, tendo conseguido conciliar a vida familiar com a política.
No entanto, é lamentável que muitas mulheres ainda tenham medo, até dos próprios maridos, para se envolverem na política e não consigam lidar com a pressão social.
(+) Na tua perspetiva, que medidas poderiam aumentar a participação feminina na política?
A.M. É fundamental que se trabalhe na mudança de mentalidades, incentivando a participação feminina na política sem receios ou críticas; alterar a Lei da Paridade para garantir que, após as eleições, as mulheres eleitas não possam abdicar a favor de homens; sensibilizar as adolescentes femininas a participarem no Governo Jovem e desenvolverem competências de liderança; são algumas das medidas que poderiam aumentar a participação feminina na política.